sábado, 26 de março de 2011

Lagoa Santa - Água escura

Os moradores do município de Lagoa Santa, na região da grande Belo Horizonte, já vinham enfrentando um rodízio velado no fornecimento de água. Agora, nem rodízio não tem, tem é falta de água e água escura.

Mas qual é a história completa ? A história é uma teia (web em inglês) cujos "fios" são:


  • Barateamento dos materiais de construção;
  • Falta de leis que protegessem o meio-ambiente
  • Fuga do homem urbano para o sossego
  • Incentivo aos empreendimentos
  • Loteamentos irregulares, conseguidos com política e influência;
  • Via de passagem da serra do Cipó


Tem uns dez anos que eu ia com parentes ficar em sítios alugados. O lugar era muito bonito. Ninguém queria morar na região. Então Belo Horizonte começou a se tornar uma capital opressiva, barulhenta e bagunçada. Nos fins de semana estabelece-se, até hoje, o império dos butecos e a barulheira de noite. Então, quem pode, construiu casa em Lagoa Santa, em lotes comprados ou de herança.

Empreiteiros espertos e famintos obtiveram licenças para fazer loteamentos, usando política, influência e dinheiro para que fossem licenciados de forma rápida. Não havia uma política para se obter licenças ambientais, aliás, nem disto se falava. A preocupação é mais recente. Muitos deixaram os lotes ali de reserva para o futuro. Com a pressão da vida na cidade, quem tinha lote se lembrou dele.

Ajudados pelo preço mais baixo e da facilidade de financiamento da Caixa Econômica Federal para materiais de construção, o homem urbano se lançou na tarefa de erigir sua morada de fim de semana com voracidade.

Acrescente-se a isto o fato de que ao voltar da serra do Cipó em suas viagens, o homem urbano é obrigado a passar pela avenida principal de Lagoa Santa e pelas terras virgens. Daí veio o pensamento:

Nós podíamos construir aqui o nosso sítio

Juntando todos estes fatores, deu-se o fenômeno de colonização da região. E como o homem não é um tão hábil planejador, não mediu a velocidade da construção em relação ao crescimento da infra-estrutura. A pressão da água, que possibilitava o amplo abastecimento, agora se tornou insuficiente para tanta gente. É uma verdade física. E o investimento para disponibilizar água é vultuoso, e precisa da ajuda do Estado. Prefeitura sozinha não consegue.

Depois dos empreiteiros e da população promoverem uma ocupação desordenada (pois todos tem culpa), eles vem cobrar das prefeituras e até da concessionária de serviços de água e saneamento providências. Só que depois de um determinado ponto, o estrago é muito superior à capacidade de investimento da prefeitura local. E a concessionária é acionada pela prefeitura. No caso de Lagoa Santa, o custo para correção do "rombo" de abastecimento precisa de investimentos do PAC (esfera federal).

Vamos dar alguns números como referência. Uma cidade com 30 mil habitantes tem um acréscimo, em 5 anos, de 60 mil habitantes. O investimento em infra-estrutura, quando uma cidade não é planejada, não cresce linearmente com o crescimento populacional. O município de Lagoa Santa deve ter experimentado um crescimento desta ordem. Agora, para corrigir, não basta simplesmente ir reclamar ao prefeito, nem à concessionária. Quando a população dobra, com espalhamento territorial é preciso expandir as redes. Quando não, é preciso trocar toda a rede, para suportar, provavelmente, o dobro da vazão.

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