Acompanhar historicamente esta criação ajuda a entender como é feito planejamento desta natureza e, principalmente, para o objetivo deste blog, o problema da água.
Os relatórios dos prefeitos
Para uma visão histórica, é preciso se referir aos documentos históricos. Os documentos desta natureza são os relatórios dos prefeitos de Belo Horizonte, pois sendo os redatores destes a autoridade máxima da cidade, sua confiabilidade é inquestionável.
Estes relatórios, denominados "Mensagem ao Conselho Deliberativo da Cidade de Minas", começaram a ser redigidos a partir de 1900, equivalente ao exercício administrativo que compreende o ano de 1899 até 1900. O primeiro foi publicado em 19 de setembro de 1900.
Uma observação: o título diz "Cidade de Minas", pois o nome Belo Horizonte ainda não tinha sido adotado como o definitivo para a cidade.
O período 1899-1900
Não vamos dizer que a cidade estava se organizando nestes primeiros anos. Sendo uma cidade planejada, toda uma infra-estrutura tinha sido implantada, e já existiam alguns problemas para serem resolvidos. Já existia uma rede de abastecimento de água implantada, já existia uma usina hidrelétrica em funcionamento em uma queda d'água no Rio Arrudas, um matadouro, parque, a Santa Casa de Misericórdia, e o Mercado Central estava em construção.
Mas vamos detalhar somente a parte de saneamento básico num contexto que ainda não abrange a nossa visão atual de algo bem mais amplo. Havia uma rede de abastecimento, e os dados são os que vem a seguir.
Fonte: Corte da Planta de Bello Horizonte - Acervo da Comissão de Construção da Nova Capital |
A rede no perímetro da avenida do Contorno (zona urbana) estava toda implantada. Já havia a preocupação de estendê-la para a zona suburbana, onde a falta já era sentida, principalmente na sexta seção, correspondente à região da Lagoinha. No relatório é dito que esta região será ligada à "Caixa do Cruzeiro", um reservatório em um ponto alto do bairro que tomou este nome.
Ferro e Chumbo
Neste princípio de implantação das redes (não se entenda início, mas já um estágio bem adiantado), ainda se utilizava os canos de chumbo para as curvas, dada a sua maleabilidade e ponto de fusão baixo. Podemos fazer uma pequena observação, quanto ao uso de chumbo a 2000 anos atrás, no Império Romano, nas canalizações das casas dos ricos romanos.
O chumbo é um material perigoso, pois seu efeito é cumulativo no corpo humano, podendo levar à cianose (aparência azulada em torno dos olhos e nas gengivas).
Estabilidade do abastecimento
O relatório dá conta de que desde o mês de janeiro de 1900 o fornecimento de água já está bem regular. Já existe a preocupação com o período de chuvas, que pode quebrar esta regularidade e provocar incidentes. Mas é lembrado que é preciso construir um grande reservatório para dar regularidade efetiva ao fornecimento.
O consumo desta cidade que está começando a sua vida é de 545.712 litros por hora para uma população de 30.000 habitantes, ou seja, 18,19 litros por hora por habitante. Neste ano de 2012, o consumo da população de 2.800.000 habitantes é de 27.471.456 litros por hora, ou seja, 9,81 litros por hora por habitante. Daí as reclamações que constam do relatório de que a população estava esbanjando água naquele ano. A razão estava dobrada naqueles tempos. E a redução foi conseguida ao longo de todos estes anos com um enorme esforço de propaganda, e com a colocação da tarifa em patamares razoáveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário